Não foi fácil o caminho de João Massano até chegar a bastonário da Ordem dos Advogados (OA). Numas eleições antecipadas pela entrada em vigor dos novos estatutos da OA, Massano encabeçou a Lista R e teve três adversários, um deles a própria bastonária em funções, Fernanda de Almeida Pinheiro, de quem ficou a 550 votos na primeira volta das eleições: 30,95% para 33,81%. Em terceiro e quarto lugar ficaram os colegas José Costa Pinto (25,57%) e Ricardo Serrano Vieira (9,67%). O segundo e decisivo turno desfez todas as dúvidas e permitiu a reviravolta. Massano venceu com 54,58%, enquanto a principal rival se ficou pelos 45,42%. “É um dos dias mais felizes da minha vida. Agora, é necessário reconstruir pontes. Não podemos alimentar o ódio entre advogados ricos e pobres”, sublinhou, pouco depois de saber da vitória.
Linhas de discurso que não variaram do tom utilizado durante a campanha eleitoral, em que João Massano priorizou a palavra união – “Juntos Podemos Mais” foi o lema. Apontou cinco focos de ação que considerou fundamentais – skills em gestão, infraestrutura e tecnologia, networking e gestão de clientes, desenvolvimento profissional e conformidade e ética – e destacou os verbos dignificar, defender, dotar e desafiar como os principais pilares de sustentação do seu futuro modo de atuar. Além disso, chamou a atenção ao garantir que não receberia qualquer remuneração se chegasse a bastonário, promessa que, já eleito, reforçou que irá mesmo cumprir.
Filho único de um casal de poucas posses, oriundo de Estremoz, no Alentejo, onde passou largas temporadas de férias de verão durante meses que confessou não mais lhe terem saído das memórias gratas, o pai era funcionário de uma empresa de transportes e a mãe trabalhou em limpezas. Viveu uma das maiores tristezas quando ambos faleceram no ano de 2020, em pleno pico da pandemia de covid-19. Foram as primeiras pessoas em quem pensou quando foi confirmado bastonário, admitiu.
Cresceu em Odivelas e destacou-se como aluno mediano que só a partir do 10.º ano fez crescer as notas escolares. Durante a adolescência veio ao de cima uma paixão que jamais viria a largar: o Sporting, chegando mesmo a pertencer à Juventude Leonina, a mais antiga claque verde e branca. “Era um tempo em que as claques eram mais civilizadas”, assinalou ao site Advocatus. Ainda hoje é raro perder um jogo no Estádio José Alvalade. Já fez loucuras, como quando saiu disparado de Viana do Castelo para ir festejar um título do clube a Lisboa, voltando novamente ao Norte horas depois.
Ao mesmo tempo que cumpria a licenciatura pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, ganhou dinheiro como eletricista nos estaleiros da Lisnave, na outra margem do rio Tejo, em Cacilhas (Almada). “Decidi que queria ser advogado quando estudava no 9.º ano. Queria mexer e tocar na vida das pessoas, também influenciado pela ideia de justiça que, na altura, era passada pelas séries americanas”, explicou ao Advocatus. Durante o curso, foi pai da filha mais velha, tinha apenas 21 anos. É casado e tem outro filho.
Não se ficou pela licenciatura e, em 2006, concluiu o mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais, na mesma faculdade. Dois anos antes, fora sócio-fundador da sociedade de advogados ATMJ, onde se especializou em casos ligados aos setores imobiliário e societário. Entretanto, passou a integrar os órgãos sociais do Conselho Regional de Lisboa da OA, chegando a presidente em 2020. Ao mesmo tempo, foi acumulando com a docência na Faculdade de Direito, a mesma onde se licenciou, e nas privadas Lusófona e Moderna. Já em 2021, deixou a ATMJ e criou escritório próprio, que montou num sexto andar da Avenida António Augusto de Aguiar, em Lisboa, a poucas centenas de metros da Fundação Calouste Gulbenkian. Escreveu artigos especializados, sobretudo sobre Direito do Trabalho e Direito Comercial, e marcou presença em espaços de comunicação social, em particular na SIC e na TVI. Não poucas vezes foi chamado a comentar casos judiciais noutros media.